Do Livro Homem: Sua Verdadeira Natureza e Ministerio
Por
Louis Claude de Saint-Martin
Sentimento de imortalidade
Pelo esforço de nos tornarmos novamente a imagem de Deus, obtemos a inestimável vantagem de não só por um fim em nossa privação e degeneração, mas de avançar em relação ao que os homens, ávidos por glória, chamam de imortalidade, e realmente desfrutar dela; pois, o vago desejo que os homens da torrente possuem, de viver nos espíritos de outros, é o mais fraco e falso de todos os argumentos geralmente usados em favor da dignidade da alma humana.
De fato, embora o Homem seja espírito e em todas as suas ações, regulares ou não,tenha sempre algum tipo de motivo espiritual; e embora, ele só possa atuar pelo e para o espírito, no que quer que emane dele, este desejo de imortalidade não passa de um impulso de seu amor-próprio, um sentimento da atual superioridade sobre os outros e uma antecipação da admiração dos homens prometida a si mesmo, e que o anima; quando o homem não vê uma maneira de efetuar este quadro, seu ardor esfria, e as obras que dependem deste ardor são consequentemente afetadas.
Podemos afirmar que esta inclinação procede mais de um desejo de imortalidade, do que de uma real convicção sobre ela; a prova é que aqueles que se deliciam da imortalidade, são aqueles que para realizá-la, não tendo nada a oferecer senão obras temporais, mostram que a região em que se orientam está dentro do limite do tempo: pois a árvore é conhecida através de seu fruto.
Se os homens estivessem realmente convencidos desta imortalidade, dariam prova desta convicção tentando trabalhar em Deus e para o verdadeiro Deus, esquecendo deles próprios; então, suas esperanças de uma vida imortal, não seriam desapontadas, porque plantariam sua semente num campo em que teriam a certeza de reencontrá-la algum dia; enquanto que, trabalhando somente no tempo e plantando somente na mente dos homens, para serem rapidamente esquecidos por alguns, e nunca ouvidos por outros, é a maneira mais inadequada e desvantajosa de se trabalhar na edificação da imortalidade.
Se refletíssemos um pouco, encontraríamos bem a mão, provas decisivas de nossa imortalidade. Considerando somente a privação habitual e constante na qual o homem deixa seu espírito, - e seu espírito não está destruído. Ele se excita, se engana, dedica-se ao erro, torna-se ruim e fraco - faz o mal enquanto poderia fazer o bem; contudo, no exato sentido da palavra, ele não morre.
Se tratássemos de nossos corpos com a mesma negligência e descuido, se os deixássemos, da mesma forma, em jejum, famintos, eles não fariam nem o bem, nem o mal, eles simplesmente morreriam.
Outra indicação de nossa imortalidade, pode ser verificada no fato de que, em todos os aspectos, o homem aqui embaixo, caminha durante todo o dia ao lado de seu túmulo, e só pode ser por alguma espécie de sentimento de imortalidade, que ele tenta mostrar a si mesmo que é superior a este perigo.
Isto vale para os soldados, que podem morrer a qualquer momento. Vale para o homem corpóreo, que pode ser tirado deste mundo a qualquer instante, a única diferença é que o soldado não é, necessariamente, vítima do perigo que o ameaça, enquanto que os homens naturais deverão tombar, todos, sem possibilidades de exceções.
Entretanto, em ambos, observamos a mesma tranqüilidade, para não dizer desatenção, que faz o guerreiro e o homem da natureza viver como se não existisse nenhum perigo para eles; tal descuido é a própria indicação de que são tomados pela idéia da imortalidade, já que ambos caminham nas extremidades de seus túmulos.
No que diz respeito a questões espirituais, o perigo do homem é ainda maior, e o seu descuido ainda mais extraordinário: o Homem Espírito anda constantemente ao lado de seu túmulo, sendo quase sempre tragado pela fonte imortal onde tudo jaze, além do mais, não poderíamos questionar: há muitos entre nós que não caminham dentro de seus túmulos? E o homem está tão cego que nem se esforça para sair, e nem se interessa em saber se algum dia sairá.
Quando ele é afortunado o bastante para perceber, mesmo que por um único momento, que está caminhando neste túmulo, tem então uma irresistível prova espiritual de sua imortalidade, uma vez que tem a prova de sua terrível mortalidade, e o mesmo que chamamos, figurativamente, de morte. Agora, como pode sentir horror desta mortalidade espiritual, se não tiver, ao mesmo tempo, um forte sentimento de sua imortalidade?
É somente neste contraste que o homem descobre que é punido; isto porque a dor física é sentida pela oposição entre doença e saúde. Mas este tipo de prova só pode ser adquirida pela experiência, é um dos primeiros frutos da regeneração; pois se não sentirmos nossa morte espiritual, como podemos pensar em rogar pela vida?